Sinopse

Um compositor de polcas frustrado busca significado para sua própria vida ao tentar criar a obra de arte que traria a nobre e reconhecida fama. Mais uma sagaz e irônica história do maior escritor brasileiro.
Entre meia-noite e uma hora, Pestana pouco mais fez que estar à janela e olhar para as estrelas, entrar e olhar para os retratos. De quando em quando ia ao piano, e, de pé, dava uns golpes soltos no teclado, como se procurasse algum pensamento; mas o pensamento não aparecia e ele voltava a encostar-se à janela. As estrelas pareciam-lhe outras tantas notas musicais fixadas no céu à espera de alguém que as fosse descolar; tempo viria em que o céu tinha de ficar vazio, mas então a terra seria uma constelação de partituras. Nenhuma imagem, desvario ou reflexão trazia uma lembrança qualquer de Sinhazinha Mota, que entretanto, a essa mesma hora, adormecia pensando nele, famoso autor de tantas polcas amadas. Talvez a ideia conjugal tirou à moça alguns momentos de sono. Que tinha? Ela ia em vinte anos, ele em trinta, boa conta. A moça dormia ao som da polca, ouvida de cor, enquanto o autor desta não cuidava nem da polca nem da moça, mas das velhas obras clássicas, interrogando o céu e a noite, rogando aos anjos, em último caso ao diabo. Por que não faria ele uma só que fosse daquelas páginas imortais?
Para quem gosta de narrativas curtas, quer se entreter com uma boa história e descobrir novos autores, a coleção Contém um Conto traz sempre o melhor da literatura mundial em tamanhos pequenos. Contos dos mais importantes escritores para você poder ler onde quiser: enquanto pega o ônibus, espera na fila do pão ou durante a pausa do almoço. Tudo com a facilidade e a rapidez do formato digital.