O Curador Ferido: Mito E Formação Junguiana

  • Autor: Rejane Maria Gomes Leite Natel
  • Editora: Editora Appris
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Sinopse

O mito do curador ferido é identificado nas sociedades xamânicas e por meio de Jung e Von Franz desde o universo simbólico-religioso até sua mudança de status religioso dentro dessa comunidade. Ele é identificado no grupo por apresentar, desde a infância, características que o diferenciam dos demais integrantes. Após essa identificação passam por processos de resistência física e psíquica, numa aproximação do mito do herói que conhecemos em nossa sociedade. Ao resistir e enfrentar todo o processo de treinamento e aprendizado, transmitido oralmente por ser uma religião tradicional ou primitiva, está apto a ser um curandeiro, o medicine-man do grupo. Mas para atingir esse status, ele é o detentor e mantenedor das tradições e técnicas de êxtase para entrar em contato com os espíritos. Segundo Eliade, sua função social é o de transmitir toda a cosmogonia e teogonia desde sua criação e, assim, por intermédio desse ofício e pelo estado alterado de consciência, promover a cura simbólica e obter a cura, de forma a devolver ao sujeito sua integridade física, psíquica e espiritual. Ao escreverem que o sujeito, para ser um psicoterapeuta Junguiano, necessita passar por processos muito semelhantes, Jung e Von Franz remetem-nos a uma aproximação desse mito. Eles alertam sobre o risco de não obtermos a cura de nossos pacientes se não tivermos passado pelo processo de autoconhecimento, tornando, assim, uma terapia superficial, na qual se faz o papel de orientador, ao invés de curador. Ainda, tratam a análise a que devemos nos submeter como as provas de resistência ao entrarmos em contato com o nosso inconsciente profundo, quando ocorre um processo de fenômenos numinosos, além de exigirem um aprendizado teórico e vocação, tratando esses temas num universo simbólico próximo ao universo xamânico. A vocação seria o chamado identificado em situações de extremo perigo físico e psíquico, em que somos remetidos ao nosso inconsciente profundo. Perdas, lutos, doenças graves e outros sofrimentos aproximam-nos do nosso Mundo Interior, promovendo transformações em nossa vida cotidiana. Ao obtermos a cura, identificamo-nos com o mito do curador ferido e, assim, ficamos aptos a reconhecer e acolher a dor do outro, nossos pacientes. Assim, a cura simbólica ocorre de forma muito semelhante a das sociedades xamânicas. A capacidade de curar o outro exige de cada curador o ato de curar a si mesmo. O universo simbólico, suas crenças e a busca por sua individuação será o objetivo e a intenção maior desse processo; melhor explicando, a cura se dá para aquele que consegue enfrentar seu inconsciente profundo e retornar a sua vida consciente transformado. As aproximações são possíveis por meio de comparações e alertas feitas por Jung e Von Franz e outros autores, que se debruçaram no estudo da psicologia e de outras ciências que têm a disposição de, por meio desse conhecimento, tomar a humanidade como um todo, com a universalidade de símbolos tendo um significado que faça sentido para o homem, atual ou primitivo.