Gerha

  • Autor: Gilberto Dilo
  • Editora: Viseu
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Sinopse

Gerha é uma peça de teatro privativa de angústia. A luta terrena contra os preceitos dualísticos, dicotômicos sintetiza à vontade de um jovem artista de fugir diante do "desespero humano". O 'desdém', a 'imoralidade', as 'seitas religiosas', a 'imprensa', a 'política social', o 'povo' e, sobretudo, a luta severa contra os 'intelectuais' da época percorrem o caminho dessa narrativa dramática.
Por sua vez, Gerha é um jovem fascinado pelo conceito de negação, algo que o substancia a viver retraído, longe da hipocrisia de seu pai e inquieto quanto ao amor mistificado, sistematizado e construído em cima da vocação inteligível. Em suma, o misantropo não ama a jovem Diotima, mas sim a perspicácia que brota das suas ações.
Em uma época onde se defende à idolatria, o medo, à imoralidade, à traição, à perfídia, há de se desconfiar da dialética dos personagens, dado que os mesmos estão governados da ardente vontade de negação. É a negação inconsciente, postergada pelas ações, pelo pensar, pelos hábitos desencadeados no tom cínico do autor. Ademais, a linguagem usada no contexto poetisa os seres tomados pela corrupção, pela conjura, pela astúcia, pela ingratidão e pela frieza das ações.
É importante que o leitor não seja tão somente levado pela história dos personagens, mas tenha a sensibilidade inteligível para se refletir acerca do conteúdo: frases, orações e os pensamentos professados.
Não vos julgais condescendente da solidão de Gerha, porque ela corporifica a primavera juvenil diante do desprezo da vida, passando a desacreditar dos próprios sonhos e, tediosa pela frustração da existência, passa a se perguntar se viver vale mesmo a pena.
Portanto, não chorais pela solidão desse jovem se diante da poeticidade vós não se encontrais no sentimento de desespero, acentuado pela falta de sentido da vida. É a falta de perspectiva que o enche de temeridade. Um jovem aflito que não acredita em nada e se assusta com a hipocrisia dos conterrâneos. No entanto, para que conviver com homens paupérrimos, caso possamos fazer escolhas? E a escolha do ímpio, do puro, do solitário é fugir de suas próprias dores e aflições. Em vez do suicidar-se, resta-lhe o refúgio, após dizer não ao mundo, divagar diante do destino sem utopias. Não chorais por Gerha! É triste! Mas chorais por vós!
E assim Gerha persevera: "Ser! Onde se encontra o meu ser, ó desventura? No pântano da dor abisma a lasciva vida da solitária divindade. Ser o que vive e a natureza ignora, é ser inútil a tarefa da vida. Tal como a unidade da lei eterna, abdico à imortalidade para junto dos mortais refugiar meu coração no lago enfermo do sábio eremita." Mesmo sem uma resposta para seus questionamentos, o jovem artista pergunta-se sobre a vida em tom de desengano. Apesar disso, resta-lhe o fugir, os esconder-se porque o ato de ajudar corrói e destrói no templo da esperança aquele que se lembra de suas proezas com desencanto: "E eu fui como uma ponte para os solitários, e como uma árvore para os decadentes. Agora é preciso que as coisas altas desçam e as coisas baixam se elevem para me contemplar."