Papo com Juremir Machado

O contraste comportamental na cidade de São Paulo ficou em destaque recentemente. Enquanto um morador de rua foi vítima de um ato extremo de violência, em contrapartida um grupo de pessoas trabalhou em equipe para salvar um cão que havia caído em um córrego. Emocionante, sensível, estupendo. De um lado a dignidade e disponibilidade em salvar aquele pequeno animal, do outro a indignidade, a crueldade, o horror.

Seguindo a tradição histórica de embates e manifestações populares, os franceses foram às ruas protestar contra a reforma da previdência de Macron. Os cidadãos se recusam a trabalhar até os 60 anos. O mundo olha para a França e se pergunta, como irá terminar?

Após uma tentativa de invasão na embaixada norte-americana no Iraque, os Estados Unidos responderam com um ataque ao aeroporto de Bagdá que resultou na morte do general iraniano Qassem Soleimani. O mundo se questiona: há possibilidade de uma Terceira Guerra Mundial? 

As opiniões sobre o primeiro ano de governo do presidente Jair Bolsonaro divergem. Alguns juram que foi maravilhoso, enquanto outros o classificam como péssimo. Como avaliar a partir de indicadores? O ano também foi marcado por declarações desencontradas e assustadoras. Os mal entendidos explicam tudo, até o inexplicável.  

No Natal, o presidente Jair Bolsonaro caiu, levantou e sancionou o pacote anticrime. Com vetos, conservou o essencial, para a surpresa de muitos, inclusive do ministro da Justiça Sergio Moro. O presidente manteve o chamado juiz de garantia. Diga-se de passagem, a melhor parte do pacote.

Sem renda ou décimo terceiro, famílias caíram no pente fino do governo e lamentam o natal da miséria. O Bolsa Família cortou durante o período Bolsonaro 1,16 milhão de famílias. Em princípio para eliminar distorções. Na prática, contudo, há famílias agora que passam fome. O Bolsa Família é uma renda tão mínima que só gente perversa ou fora de si poderia ver nisso um privilégio.

Michel Temer tentou abrir as portas das cadeias para a liberação de corruptos, Jair Bolsonaro por sua vez resolveu perdoar mais de 80% das penas impostas a policiais. Policiais devem ser valorizados quando cumprem o dever e as suas atribuições. Mas, assim como qualquer civil deve ser punido se cometer alguma infração ou crime.

O ano está terminando, o ritmo é de esvaziamento. A popularidade de Jair Bolsonaro é a pior de todos os presidentes desde a redemocratização. Talvez pelo seu gosto por frases fortes e muitas vezes absurdas. Será que há uma separação entre o que um presidente diz, o que ele faz e como as pessoas o percebem?

O Brasil já entrou no clima de eleições presidenciais em pleno 2019. O presidente Jair Bolsonaro já está em campanha, assim como o governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel. Mas há um sutil adversário na disputa, o ministro Sérgio Moro. O ministro está na retranca, observa o tabuleiro e visualiza uma possível vitória com a queda da família Bolsonaro. As especulações da entrada de Moro no Podemos são fortes. O partido é um forte defensor da Lava Jato e sua principal bandeira é o combate à corrupção.  

O Presidente da República Jair Bolsonaro está incomodado. Consta que chegou a temer a prisão ou o pedido de prisão de seu filho. Os dados são acachapantes. Segundo o Ministério Público, Flávio teria lavado R$ 638 mil em compras de imóveis com dinheiro vivo oriundo das tais rachadinhas. O uso de dinheiro público nesse tipo de transação costuma encobrir alguma coisa. A investigação parou por um tempo considerável, por quê? Será um final de ano conturbado para o família Bolsonaro.

Após um ano depois dos fatos, finalmente um mandado de busca e apreensão. Fabrício Queiroz, ex-assessor do então deputado federal Flávio Bolsonaro, foi acusado de fazer "rachadinha" na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Ele teria resgatado parte do salário dos funcionários do deputado de volta e exigiria a devolução para diversos fins. A operação tentou dar continuidade a investigação, mas foi barrada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, alegando que nada poderia ser investigado com base nos dados do tal Conselho de Controle de Atividades Financeiras.

Na semana passada, o Presidente da República, Jair Bolsonaro, chamou a jovem ativista sueca, Greta Thunberg, de pirralha. No dia seguinte, a "pirralha" foi eleita a personalidade do ano pela revista americana Time, a revista está enganada? Em outra ocasião, Bolsonaro então chamou o educador Paulo Freire de energúmeno. Paulo Freire recebeu 34 títulos Doutor Honoris Causa de universidades de toda parte do mundo, e também é o único brasileiro que tem o seu livro na lista dos 100 nais indicados por faculdades estrangeiras, ou seja, todas as universidades mundo afora, se enganaram. Mas resta a dúvida, como foi possível que Paulo Freire, enganasse o mundo inteiro, e só Jair Bolsonaro, Olavo de Carvalho e os seus, tenham percebido isso? Todos os cursos de pedagogia, de educação, doutores por aí afora, todos se enganaram, ninguém viu, aí apareceu o Bolsonaro e desmascarou: Paulo Freire, energúmeno.

A velha aspiração do empresariado de que o domingo seja apenas mais um dia da semana ainda assombra o trabalhador. Um governo que se posiciona em defesa da família, parece aumentar os obstáculos para a convivência familiar. A verdade é que a proteção do trabalho e ao trabalhador foi transformada em vilã. Tudo que se quer é a tal "uberização" do mundo. O falso ideal de que o indivíduo faz o seu próprio horário de trabalho e trabalha nas condições em que desejar. Enquanto na realidade, o ganho é mínimo e o motorista é refém da necessidade.

Numa tentativa de salvar o Pacote e tentando manter sua votação ainda para a próxima terça-feira (17), o governador aumentou o valor da aposentadoria dos professores. De acordo do o CPERS-Sindicato, a proposta inicial era muito ruim, já a nova é apenas ruim. Qual é a conclusão que se pode tirar da greve dos professores da rede estadual? O que essas recentes mudanças no pacote representam?

Entre polêmicas políticas e judiciais, há uma fortíssima entre o artista Caetano Veloso e o escritor Olavo de Carvalho. Tudo teve início quando Caetano chamou em algum momento, em artigo, o escritor de "sub-Hitler". Depois desse episódio,  Olavo o acusou de suposta pedofilia, em suas redes sociais, por ter iniciado uma relação com Paula Lavigne (sua atual esposa) quando ela tinha apenas treze anos de idade. Veloso foi a justiça pedindo que as postagens fossem retiradas, a justiça deu ganho de causa a Caetano, mas Olavo de Carvalho não as retirou completamente.

O que exatamente Bolsonaro pretende ao chamar a ativista sueca Greta Thunberg de pirralha? Elegantemente, a jovem chegou a atualizar as informações em seu Twitter para apenas: "Pirralha". O presidente parece dizer que uma adolescente de dezesseis anos não tem legitimidade ou autoridade para tratar de assuntos graves e sérios, como a destruição da Amazônia. Mas afinal, o que da credibilidade ao discurso de Greta?

Cristina Kirchner volta ao poder, como vice-presidente, mas será como coadjuvante ou como protagonista? O que conta mesmo é o seguinte: quem estava à direita, passou à esquerda; e quem estava à esquerda, passou à direita. Parece ser uma regra da democracia, as pessoas estão sempre descontentes, o poder não tem dado conta do recado. Tanto liberais, quanto esquerdistas, parecem não encontrar soluções que façam o país progredir. Alguns avanços aqui e ali, mas também há retrocessos. 

Fim de ano e a política já está com as portas fechadas? Não é bem assim. De acordo com os servidores, o pior ainda está por vir. É tradição as convocações extraordinárias ou as tentativas de votação de projetos no "apagar das luzes". É no final do ano que as medidas mais duras entram na pauta. Eduardo Leite ainda não desistiu, apesar da pressão das ruas e da falta de apoio - mesmo entre a base aliada.

A insatisfação dos servidores com o pacote do governo apresentado à Assembleia Legislativa tomou as ruas de Porto Alegre. Como está o projeto, não passa. Isso é certo.  O governo parece ainda não assimilar a mensagem. Aqueles que foram às ruas trataram de esclarecê-las. No que se refere aos professores, a própria Assembleia já deixou claro que não vai passar. O próprio presidente da Casa propôs a retirada do regime de urgência. Em relação ao pacote como um todo, a perspectiva não é muito diferente.

Foi aprovada a reforma da previdência dos militares, um baita privilégio. Tendo direito a integralidade e paridade, sem idade mínima para aposentadoria. Quando se pensa em policiais militares, faz sentido estes arriscam a vida todos os dias. Mas e os outros? Militares dirão que não tem FGTS(Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) ou dirão que não tem horas extra. Mas só eles não tem? O correto seria uma reforma da previdência que atingisse a todos da mesma forma.