Zaranza

  • Autor: Rita de Podestá
  • Editora: Editora Reformatório
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Sinopse

"Tem tanta coisa na vida que é um quase". Frase de um dos contos de Zaranza, e que também poderia servir para sintetizar o próprio livro. Nestes contos de amores impossíveis, de solidão e de desencontros, tanto seus personagens quanto as coisas ao seu redor estão em permanente estado de "quase". Os relacionamentos quase dão certo, as coisas são quase dramáticas, quase triviais. Apesar das dores, não há drama nessa linguagem que é, ao mesmo tempo, infantil e ferina, de tão lúcida. O leitor sente vontade de rir de certo desajeito constante, mas também percebe uma lágrima quase caindo, de tanto que as pequenas trivialidades parecem se cercar de melancolia.
Instruções para matar pernilongos se misturam à descrição de um abandono que, se de início soa como uma condenação, talvez possa ter sido uma bênção. O início de um amor pode ser como um chute na porta com o mindinho do pé. Já seu fim se aproxima de uma receita de risoto (com shoyu). Tocar violino para surdos pode ser o retrato da mais pura solidão ou de um afeto ainda não experimentado. O vazio de uma morte se parece com uma praia de biscoito de polvilho sem mar.
A forma como Rita conjuga o mínimo com o máximo, desde o mais banal ao mais profundo, faz com que ambos se transformem em seu oposto, o banal se tornando denso e o dolorido se tornando suportável.
O leitor fica em constante deslocamento de expectativas, ao passo que vai imperceptivelmente caindo de amores por essas mulheres frágeis e fortes, que sabem enfrentar os desarranjos da vida de forma sempre criativa e quase engraçada. São mulheres que, sobretudo, riem de si mesmas, fazendo por isso com que o leitor também aprenda a pensar em suas próprias dores e sorrir.
"Salário, pipoca média, férias, meias brancas, fim de semana, marcadores de livros: muita coisa que parece muita, mas na verdade é pouca". Uma verdade praticamente absoluta que, se fala de detalhes, fala também, e obliquamente, sobre a paixão. Quase uma filosofia calcada na experiência e que, literariamente, provoca o sabor de uma concretude que esconde reflexões fundas.
Zaranza é aquilo que mostra perturbação ou atordoamento, ou então uma pessoa que mostra falta de bom senso, um doidivanas. Que o leitor se prepare para um livro de contos atordoantes e doídos e que, ao final da leitura, se sinta supreendentemente mais esclarecido e leve, com uma luz que vem não se sabe de onde, nem porquê, mas que é quase a vida.